data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
O Shopping Independência e o entorno do Calçadão estariam sendo o endereço para a atuação de grupos de bolivianos e de colombianos - suspeitos de atuarem na cidade ao conceder empréstimos com juros abusivos e diários a pequenos empreendedores. A coluna recebeu a denúncia de comerciantes e de pessoas que procuraram, nos últimos meses, os estrangeiros.
Conforme relatos, eles emprestam dinheiro para comerciantes da região e, depois, cobram juros exorbitantes. Os valores, inclusive, seriam reajustados diariamente. Em caso de descumprimento do que fora acordado, o grupo se valeria de práticas ameaçadoras e intimidatórias.
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Uma pessoa que recorreu a um dos estrangeiros explicou à coluna, basicamente, como se dá a atuação do grupo. Segundo ela, que pediu para não ser identificada, dois homens chegam ao estabelecimento comercial e se apresentam ao oferecer crédito ao comerciante.
TAXAÇÃO E COBRANÇA
Logo na sequência, é colocada na mesa uma maleta com dinheiro em espécie - quase sempre vai de R$ 1 mil a R$ 2 mil - e é oferecida a quantia. Mas os valores variam bem como o prazo para quitar o "empréstimo" que pode variar de 24 a 40 dias. A coluna teve acesso ao relato de um pequeno comerciante que fez uma solicitação de R$ 5 mil ao grupo.
Nesse caso, o prazo concedido para que a pessoa zerasse o passivo foi de 40 dias. Porém, diariamente, era preciso pagar R$ 150. Assim, nesse período, o contratante terá pago um valor total de R$ 6 mil. Assim, o esquema terá lucrado R$ 1 mil com uma taxa de juro de 20%.
O superintendente de Fiscalização da Secretaria de Estruturação e Regulação Urbana, Márcio Abbade, explica e pede que esse tipo de caso - que até o momento não se tem registro formal na prefeitura - seja comunicado ao poder público para ser apurado.
Os crimes cometidos pelos estrangeiros podem ser enquadrados como usura (agiotagem) e também por organização criminosa.Espera-se que as polícias Civil e Federal fechem o cerco contra esses criminosos. E que se descubra a origem desse dinheiro que está sendo oferecido no centro da cidade. Também será possível identificar esses criminosos quando as quase 700 câmeras do Centro Integrado de Operações da Segurança Pública (Ciosp) - investimento da prefeitura de R$ 6 milhões - estiverem em pleno funcionamento.
Shopping Independência ainda segue com práticas dos tempos dos camelódromos
Se há problemas externos, há ainda gargalos internos e práticas que seguem sendo perpetuadas. Quando o camelódromo estava estabelecido na Avenida Rio Branco, o que se deu por décadas, se sabia que um grupo minoritário dominava aquele "comércio". Ou seja, o negócio (rentável) era alugar as bancas e cobrar por isso.
Depois, na gestão Schirmer (MDB), se fez a mudança deles para o Independência. Um avanço significativo e uma mudança positiva ao centro histórico da cidade, que desencadeou um processo de recuperação e de valorização da Rio Branco.
Sabendo disso, à época, a prefeitura condicionou regras aos novos inquilinos: proibição de vender e de locar as bancas. O recado foi dado: "não se terceiriza nem se faz loteamento dos espaços concedidos". Ficava vedada também a venda de produtos do lado de fora do shopping.
DENÚNCIAS
Abbade explica que há, em média, duas denúncias por semana sobre terceirização das bancas. Mas para que elas sejam apuradas, é preciso que o denunciante as formalize. Ou seja, dê detalhes ao poder público e não fique apenas disseminando boatos.
Abbade projeta que 20% a 30% das 208 bancas se valem dessas práticas. Na tentativa de mapear quem está infringindo as regras do jogo, em novembro, foi feito um recadastramento. Das 208 bancas ativas, 189 se recadastraram. A ideia é que isso se dê, em prazo menor, passando a ser a cada três meses. Muitos permissionários estariam, inclusive, em Alagoas, Bahia e Santa Catarina e teriam alugado os espaços, o que não pode.
De 2014 a 2018, 16 mil CDs e DVDs piratas foram apreendidos e 15 pessoas perderam as bancas. Sem dizer que, em 2011, durante operação de fiscalização (com a PF e a Receita Federal), foram recolhidos produtos que não poderiam ser comercializados (óculos de grau e medicamentos).